O Contexto Farmacêutico no Futuro da Saúde

Você já se perguntou como o boticário da Idade Média se transformou no farmacêutico atual? Uma questão ainda mais desafiadora, como será o perfil do farmacêutico daqui a alguns anos? Que mudanças no ambiente profissional serão observadas?

“Preparar o futuro significa fundamentar o presente.”

Antoine de Saint-Exupéry

Para entendermos para onde aponta a inovação vamos no passado. As respostas para o futuro são um reflexo do rumo que o farmacêutico toma hoje do ponto de vista profissional.

Assim, viajamos para a Idade Média, época dos boticários ou apotecários onde a busca pelo “elixir da vida eterna” já norteava a preocupação deste cientista com a promoção e manutenção da saúde e sua atenção aos anseios da humanidade.

No Renascimento e à luz da ciência, foi atribuído muito valor a pesquisa sistemática de plantas e princípios ativos e os cientistas que dominaram  esse conhecimento tiveram grande importância para a farmácia atual.

“Todas as substâncias são venenos; não há nehuma que não seja um veneno. A dose certa diferencia um veneno e um remédio.”

Paracelso

Um cientista muito além do seu tempo, Paracelso nos deixou como herança, conceitos aplicados até hoje, como a idéia da necessidade de estabelecer a dose certa de cada substância utilizada no tratamento; os conhecimentos alquímicos para a criação de medicamentos e a importância da observação clínica do paciente.

A botica, então, passou a ser farmácia e o boticário era o farmacêutico, que ganhou importância fazendo a anamnese dos pacientes e preparando medicamentos personalizados. Passou a ser reconhecido como profissional de saúde com formação técnico/científica e como agente promotor de saúde.

E assim foi, até a 2ª. Guerra Mundial quando o forte desenvolvimento industrial e a comercialização de medicamentos produzidos em larga escala, tornaram a preparação de medicamentos pelo farmacêutico e seus cuidados personalizados aparentemente “desnecessários”. 

Mas será que é esse o modelo ideal?

A rota da inovação na Indústria Farmacêutica nas últimas décadas, foi pautada no desenvolvimento de novas moléculas e novos fármacos que obviamente tornaram-se verdadeiros “Blockbusters” e garantiram muito lucro para as grandes empresas farmacêuticas. Neste modelo de Pesquisa & Desenvolvimento, a inovação farmacêutica é focada na doença.  Porém, muitos pesquisadores e grandes empresários da área farmacêutica acreditam que este é um modelo obsoleto que gera custos altos e muita competição.

Assim, o olhar da indústria farmacêutica passa a ser para um novo modelo voltado para outros mercados e oportunidades para se manter sustentáveis e mudando o foco para o paciente e não mais para a doença.

Mas então o futuro para a saúde é a terapia personalizada e centrada no paciente? Tudo indica que sim. 

E não é esse o propósito que move o farmacêutico?  Para onde olhar senão para o paciente e oferecer atendimento mais clínico, mais humanizado, muito mais empático e absolutamente personalizado.

Podemos transpor este raciocínio para toda a área de saúde e para profissionais de saúde de maneira geral e será da mesma forma. Os fatores que passam a fazer a diferença são:

  • Caráter clínico;
  • Holístico;
  • Humanizado;
  • Empático;
  • Personalizado.

Obviamente, também teremos tecnologia no futuro e já isso era esperado. A surpresa é a conclusão que o farmacêutico seguirá seu propósito ancestral e isso é inovador.

Independentemente de atuar na farmácia, no serviço de saúde, no consultório clínico, na estética ou na indústria, a tendência será a mesma, ser um profissional menos técnico e mais focado em habilidades humanistas e clínicas, é isto que vai fazer a diferença e aproximá-lo ainda mais dos pacientes (Possamai,2007).  Este trabalho que nunca poderá ser feitas por uma máquina.

Imagine que uma máquina poderá preencher relatórios e enviá-los através de códigos e algoritmos,  mas algoritmo nenhum vai conseguir acessar a alma humana e promover confiança, crença e assim conseguir a adesão do paciente ao tratamento proposto ou convencê-lo a mudar hábitos para ganhar mais saúde e longevidade.

O simples acesso do paciente ao sistema de saúde e medicamentos não é garantia de êxito terapêutico, mas a disponibilidade e acessibilidade da atuação farmacêutica fará a diferença necessária.

         É ou não é um olhar disruptivo para a profissão farmacêutica ?

Segundo a Opas,  “Atenção Farmacêutica é a soma de atitudes, comportamentos, valores éticos, conhecimentos e responsabilidades do profissional farmacêutico no ato da dispensação de medicamentos, com o objetivo de contribuir para a obtenção de resultados terapêuticos desejados e melhoria da qualidade de vida do paciente” (Opas, 2002).

Assim, vamos continuar nos dedicando aos estudos da Farmacologia, mecanismos de ação e estruturas químicas, que sempre serão importantes,  mas devemos incorporar uma formação clínico-humanista nas nossas carreiras.  Além de buscar dominar habilidades de comunicação,  negociação, resolução de problemas,  empatia e liderança.

Seguimos, assim, uma abordagem mais focada no profissional de saúde mas é fundamental ter em mente que algumas áreas e expertises já dão sinais de apontar para o futuro da saúde, como:

  • Tecnologias celulares e moleculares;
  • Genômica;
  • Nanotecnologia;
  • Robótica;
  • Modelos científicos in sílico;
  • Sustentabilidade;
  • E outras várias.

Certamente devemos reservar e dedicar algum tempo a pesquisa sobre inovação em tecnologia na área de saúde. Vamos nos surpreender com as possibilidades que já estão fazendo parte da nossa vida.

“Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo”

                                   José Saramago